Memórias podem se perder...
Com o passar dos anos, quando temos mais passado que futuro, corremos o risco de perder memórias que nos deixarão em meio a um vazio inexplicável, ao sabor de ressonâncias de imagens, sons, falas, risos, cheiros e lugares das pessoas que amamos.
Nos últimos dois anos, desde a chegada do Felipe, há tanto dele por lembrar e saborear, e a cada dia ele traz coisas novas com sua destreza crescente com as palavras e gestos de carinho e puro amor.
Ele nos surpreende ao falar de passarinhos, imitar o uivo de lobos, o latido de cães que ele os beija e afaga sem receios, faz o zumbido das abelhas e, com suas mãozinhas, nos mostra como os golfinhos mergulham.
Ontem ele dissecava folhas secas trazidas pelo vento, sem pressa sentia suas texturas e fragilidades esfarelhando-as com os dedinhos ao espalhá-las em outros ventos.
Hoje vou vê-lo de novo, outras novidades e mais memórias para o meu banco de dados e uma farta fisioterapia neuronal.
Que eu possa lembrar desses dias por um tempo que não seja breve.
Felipe, meu neto, te amo
Paulo Afonso de Barros
Enviado por Paulo Afonso de Barros em 09/03/2020